sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Prof César

De repente um senhor me abordou da saída de estação de trem em Osasco, não o reconheci imediatamente pela quantidade de cabelos brancos. Prof César! O profsor mais temido e icônico da Coronel Antonio Paiva de sampaio. Não importasse a temperatura que estava a sala de aula, ele sempre para impor um pânico, batia a porta ao entrar seguido de um breve, sonoro e formal “boa tarde”, só que naquele dia na parte de dentro da porta alguém tinha escrito com letras garrafais a palavra: CÚ! Prof César ficou atônito olhando aquele enunciado por um tempo, era possível ver a medida que suas veias inflavam no seu pescoço e em suas têmporas, o clima de silencio na classe ia tomado uma forma atmosférica como se alguém tivesse ativado uma bomba:

- Quem escreveu isso aqui? Bradou o profs sem que ninguém o respondesse, acrecitando que a resposta seria interpretada como um desafio seguido de uma ostilidade militar;
- EU PERGUNTEI QUEM FOI QUE ESCREVEU ISSO AQUI? Apontando energicamente para a porta?
- SE NINGUEM SE MANIFESTAR VOU DAR SUSPENSÃO PARA TODA A CLASSE!!!!!
Como quem tenda desesperadamente salvar seu pescoço alguém meio que sussurra:
- A gente não sabe professor! Quando chegamos já estava... acho que ... bem foi alguém do período da tarde...
- VOCÊS ACHAM CERTO ISSO??? O QUE VOCÊ ACHA DISSO- apontando para um dos alunos da primeira fileira. O coitado só conseguia balançar a cabeça horizontalmente.
- PALAVRA MO-NO-SÍ-LA-BA TERMINADA EM VOGAL COM ASSENTO?????? ISSO É UM ABSURDO! UM HOMICÍDIO PARA COM A LÍNGUA PORTUGUESA! CU COM ASSENTO? SÓ SE FOR O DE QUEM ESCREVEU...
Era assim o prof César.Lendario nas formas de nos catequizar na língua pátria. Odiado pela maioria e amado por poucos. Mas eu o compreendia, e desenvolvi uma certa amizade com ele, a partir de um dia em que revelei que um dos meus sonhos seria ser escritor. Ele me pediu que fizesse uma redação, fiquei muito preocupado com meus erros de gramática, porem ele a encaminhou para um concurso de redação de uma escola técnica que existia na época que seria um concurso nacional, onde seriam premiados os primeiros lugares. Eu no entando tirei 4º lugar (nada mau para nível nacional não?) não levei nada, mas sua atitude e incentivo ficaram pra sempre comigo.
João boca torta. Era assim que cruelmente um garoto foi apelidado na época de colegial. Morador de uma favela dentro de meu bairro, a deficiência marcante em sua fisionomia era impossível de se ignorar para os cultuadores do “bulling”. Mas era seu combustível para vingaça contra o mundo, e reagia violentamente, tanto verbal ou fisicamente a que lhe caçoava. Era maldito por todos, constantemente apanhava na classe ou na saída, não abaixava a cabeça para ninguém, nem os mais fortes, nem os maiores .Eu por sua vez, era muito retraído e tímido, assim eu era a vítima perfeita para João. Pescotapas, sardeladas e beliscões, até o dia em que virei a mesa em cima dele, literalmente. Dei tantos socos na cara dele, prensando-o entre a parede e a mesa do professor que não deu tempo nem de que ele respirasse ou que pudesse se defender. Seu rosto ficou tão inchado que pensei que sua boca ate voltaria para o lugar. Ele respeitou minha atitude, e a partir daquele dia ficamos amigos.

Numa das inquisitórias sessões de chamada oral do prof César, ele insistentemente pedia para João conjugar um verbo que estava na lousa, sem sucesso, João travava, gagejava, e suava como se estivesse sendo interrogado no DOPS. Prof César sutilmente percebeu que o aluno lacrimejada do olho esquerdo.
Como eu tinha um considerável grau de intimidade com João, fiquei sabendo que esse professor considerado o pior dos carrascos, o levara para fazer exame de vista e lhe encomendara um óculos de grau que João utilizou por muitos anos seguintes.
Esse era o verdadeiro prof César.
Festa de formatura, estávamos muito acima do considerável para um bêbado: prof César, João e eu, o prof foi ao banheiro, eu permaneci no balcão da cervejaria e alguém chamou João de lado, ele nunca tinha deixado suas bárbaras maneiras de impor seu respeito, e era dessa conversa que se tratava essa interrupção. Quando olhei de lado, tinha cinco pessoas batendo em João, antes que eu pensasse em ajuda-lo ( atitude imbecil já que eu tinha certeza que ele sabia por que estava apanhando) eis que prof César surge voando por cima de uma mesa que estava na saída do banheiro como numa cena de BATMAN dos anos 60. as pessoas que agrediram João nem eram alunos, nem convidados da festa.
A reação foi instintiva, minha e de vários outros alunos, nos juntamos ao prof e quase acabamos com a festa de formatura.
Esse era o prof César

Foi então depois de todo um flashback instantêneo estendi a mão para aquela preciosa figura que povou a neurose de muitas crianças da minha época.
- O que tem feito de bom .
- Fala prof! Porra não vejo o sr há quantos anos !Ah! Eu trabalho em banco profs. Não sou escritor não, fiquei de passar lá na escola para a gente tomar aquela cerveja que eu sempre cobro o sr.
- Eu estou na ultima semana da minha carreira letiva na verdade! Deixe me ver... hoje é segunda feira... na quinta-feira o pessoal da escola esta armando uma festinha de despedia para minha aposentadoria daí eu deixarei definitivamente de lecionar, na festa estarão todos os ex alunos que a gente consegui contarar, muitos deles se tornaram profs então será uma festa de confraternização onde eu não faço a menor questão, mas todos insistiram muito e estão preparando a festa a alguns meses já.
- Putz que maneiro... com certeza estarei la!!!
A vida é estranha mesmo. Essa foi a ultima vez que falei com aquela pessoa que eu adimirava muito. Para uma profunda decepção dos ex alunos que organizaram a festa, prof césar foi localizado na quarta-feira da mesma semana morto no chão da sala de seu apartamento, onde já estava a 2 dias. Morreu só. Mas foi uma despedida digna da reputação do severo prof César mesmo. Cumpriu todo o seu papel com maestria e dignidade ate o ultimo dia de seu contrato, e azedou a alegria da galera do fundão como fez em todas as suas aulas.
Ao saber da notícia, obviamente depois de lamentar o ocorrido senti me imensamente honrado por ter compartilhado os conhecimentos daquele cara, alem de inspirado fazer na vida pelo menos uma coisa grandiosa: deixar uma marcante memória de construção de conhecimento ou ao menos plantar uma semente de duvida na cabeça dos céticos

O que fazer sabado a noite




- E aí vamos cair no mundo? Gritava Tião no portão de minha casa , junto com sua irmã e outras pessoas enquanto eu atravessava o corredor de casa prendendo meu cabelo e vestindo minha jaqueta de couro sitético barato ala RAMONES. Como em várias outras noites não sabíamo aonde ir, e segundo ele era ainiversário de um cara de uma família antiga do bairro, aprimeira a montar um minimercado na região que por anos foi o único, a família posuia uma fabrica de tubolares, onde nesse galpão seria realizado a festa.
Como em todas as festas fomos a pé e chegando lá eu sempre tinha que contar com alguém que tinha amizade com alguém da festa devido a meu estilo de vida isolado não ser conhecido de ninguém. Ao entrar percebi o dono da festa com uma garrafa de wisky pra la da metade se escorando na parede rodiado de garotas qual ele revesava beijos na bocA, emergentes da periferia, pessoas com atitude “blasé” cultuando toda a trangressão moral que sua grana é capaz de comprar temporariamente para suas vidas sem propósito, eu sabia , era só isso, fora isso era diversão com meus amigos. Numa ronda rápida na festa percebi que a cocaína rolava livre em algumas bandeijas  ou consumidas sobre a carteira dos mais chegados, mas estava rolando Nirvana, o que permitiu que iniciássemos uma roda de pogo e alguns stad dives de cima de um caminhão que estava estacionado dentro do galpão.

Reparei depois de algum tempo, um certo interesse de algumas garotas por mim, mas devido ao conteúdo anárquico daquele ambiente não me apeteceu nenhuma da falta de  personalidade das mulheres que estavam ali. Depois de algumas horas de cerveja e outros ingredientes etílicos, obviamente fiquei mais sociável e achado todos mais simpáticos. Todas as festas eram analisadas no ranking que iam desde amanhecer aqui, até tomar umas e bomba de fumaça! Essa estava classificada como amanhecer aqui, devido a pessoas com cultura política e musical suficiente para um debate de algumas horas. Quando surgiu com lágrimas nos olhos; Alemão- um mecânico  integrante de um grupo de motoqueiros que tinha uma atitude rock que eu admirava, a pouco tempo tinha sofrido um grave acidente que lhe rendeu alguns pinos pelo corpo o que fazia entrar pela festa arrastando o pé como um sobrevivente de guerra, mas o que me chamou a atenção foi sua frase em resposta a pergunta de Tião- O que aconteceu mano?

- Maurão porra, Maurão, meu truta, recebi a noticia que ele se envolveu numa briga, foi baleado e esta no IML  de Osasco, precisa de alguém para reconhecer o corpo e avisar para a família, eu não tenho estômago para ir lá.
- Porra ! Maurão –disse Tião olhando p mim com cerveja transbordando pelo seu copo descartável- conheço maurão, que trágico mano.
Eu sabia que aquele olhar do Tião significava que como em varias outras ocasiões teríamos que entrar em ação para resolver essa questão, porem Cecília a bela e morena irmã de tiâo não permitiria apesar de sua condição ébria que o irmão ( como eu alias ) depois de um intenso consumo de drogas etílicas, alucinógenas e anfetaminas, eu por outro lado sempre mantinha minha consciência mesmo com a perda das faculdades físicas o que tornava mais fácil uma argumentação nesses casos. Combinamos então que em nome de  um bem maior iríamos na caçamba de uma pampa do Alemão ate o IML para os procedimentos burocráticos necessários para poupar a família de uma dor que por si só já era difícil e depois voltaríamos a festa.
Noite fria, Alemão dirigindo ao lado de Cecília com lagrimas nos olhos relembrando os melhores momentos com o amigo ao alto som de CREDENCE e eu e Tião na caçamba tomando o resto de uma garrafa de wisky e filosofando sobre a brevidade da vida. Alemão não queria nem entrar no IML então foi eu o intermediador da situação a converncer os visivelmente mórbidos funcionários do IML de que apesar de não sermos da família estávamos ali para iniciar os procedimentos da regularização do óbito. Nos levaram até a câmara onde ficam os cadáveres que acabaram de dar entrada, onde reencontrei uma pessoa que tinha conhecido no buteco do Cidão, -momento flashback- entre um copo e outro de maria mole esse nordestino de estatura super baixa semblante depressivo e grandes olheiras, me esclareceu sobre o cotidiano de um IML  em uma cidade periférica de terceiro mundo, que ele próprio já transara com vários cadáveres, que não se afetava em fazer seu lanche enquanto haviam necropsias, do desprezo por pessoas materialistas e consumistas que ao terem seus corpos em entrada do IML  tem seu pertences mais valiosos usurpados( exceto em caso de crime ) e que o que sempre lhe causava ódio era o óbito de crianças vitimas de estupro.

O fato de eu já conhecer o auxiliar do IML naquela hora da madrugada me facilitou alguns procedimentos, após constatar que era realmente nosso conhecido o cadáver em cima daquela mesa de alumínio o auxiliar com uma caneta bic nos mostrou o furo da bala que penetrara transversalmente o rosto do jovem e me oferecento a caneta cutuquei o orifício do projétil onde era possível sentir a bala alojada no interior do crânio. Saí dali então com um check list de procedimentos que a família teria que apresentar para a liberação do corpo, obviamante que toda essa experiência limpou todo nosso organismo de qualquer excitação de voltar p a festa bem como os efeitos das drogas. Ao sair da casa da família do defunto, senti um arrependimento de não poder oferecer nada alem de aquela pequena ajuda e por ser o mensageiro de um fato tão ruim que iria marca-los pelo resto de suas vidas,  Mas isso sempre foi minha vida: atitudes a serem tomadas em pouco tempo sobre causas difíceis e delicadas,  mas não é sempre assim com todo mundo? A religião vende a idéia de uma possibilidade de vida mais fácil, mas vida que precede felicidade intensa e permanente não passa de um sonho de miss.



PROBLEMAS EXISTENCIALISTAS :


Todos sabiam de certas tendências suicidas entre alguns garotos do grupo, principalmente eu e Fabio pinga, houve um incidente em que numa festa de família em um sobrado no nosso bairoo lá pelas altas horas da madrugada , Fabio sentou-se em um muro na sacada do andar superior da casa e entre um copo e outro de wisky, sentiu-se meio deslocado e talvez tomado pela reflexão de sua vida sem propósito e de um futuro nefasto, vislumbrava a alegria negligente que é comum à a dolescência e achou tudo aquilo hipócrita, vazio e transitório decidiu então jogar-se de costas para a rua! Nada aconteceu como planejado, a não ser um hilário episódio que ficou na lembrança de todos. Ninguém nunca o condenava por essas atitudes. Filho de pais analfabetos, o pai vivia de sub empregos de toda a categoria, com uma renda insuficiente para o mínimo básico para a sobrevivência dos 5 filhos, e uma mãe com problemas neurológicos crônicos.  Eu mesmo testemunhei os irmãos pequenos comendo comida azeda sob o olhar etéreo, perdido, catatônico de sua mãe, o que nos fez planejarmos um show beneficiente para arrecadarmos alimentos para a família numa época de crise ainda maior. Não resolvemos um problema social definitivamente, mas segundo ele foi um gesto perpetuado.

James fugitivo da extinta FEBEM por 2 vezes, já experiente no mundo do crime e meu amigo das mais tenras idades da infância me pediu um favor que talvez tenha sido um teste elaborado por forças desconhecidas do universo. Eu guardei em uma caixa de sapatos escondida no meu quarto um revolver Taurus calibre 22 com 2 balas no tambor e numeração riscada. Era a primeira vez que sentia o peso e a aura obscura e negativa de portar um instrumento desse tipo na mão. Mas o perigo não era a arma e sim o que eu estava sentindo naquela época. A arma não corria o risco de ser descoberta, visto que meu quarto era separado do resto da casa, e a negação da minha existência, e a negligência dos sentimentos familiares alimentava um raciocínio mórbido, mas que na minha cabeça tinha carater lógico e natural. Seria perfeitamente legítimo se eu tirasse minha própria vida já que as perspectivas sobre meu futuro também considerava sombrias e ouvia tantas vezes que era uma pessoa inútil, mal vista, e inferior a qualquer outra em todos os comparativos. Somente uma coisa  mantinha meus planos quardados naquela caixa de tênis Nike cano alto; a paixão secreta por uma garota .

Porem o círculo do universo fechou naquela noite, todos estavam em uma grande e animada festa de casamento, me senti constrangido pois a família era muito carinhosa entre si e divertiam-se muito, um ambiente que eu nunca teria, alem disso tinha descoberto minha paixão com seu mais recente (talvez primeiro) namorado. Ao sair sorrateiro da festa- obviamente minha presença era ignorada por todos mesmo-encontrei- me com James que retrebui-me o favor de quardar sua arma com uma forte sessão de etileno e THC .  Algumas das cenas seguintes foram absolutamente apagadas da minha memória pois eu estava com um conflito interno que falava muito alto naquele momento . Adorava sentir os efeitos da maconha sozinho em um quarto escuro ouvindo rock.  Pus no toca discos um vinil do recém lançado USE YOUR ILUSION  do Guns n Roses, iniciava-se ali meu ritual de suicídio.

Reflexivo na cama, minha mente surfava nos bends da guitarra de Slash  e mesmo no escuro eu tinha visão da arma, quando ouvi passos pela casa onde so havia eu e minha loucura;

- Hey mano, vamo la pra festa, já bebi pra caraio! – Tião tinha aquele olhar perdido e igualmente perdido parte de sua condição motora.
- Da um tempo que eu já apareço- a frase saiu com um tom carinhoso porem fiquei com receio que ele captasse algo diferente que o fizesse me esperar; mas vi em seus olhos que ele entendera que precisava me deixar só.

Foi então que, ao fechar a  porta  presumiu-se um silêncio entre uma faixa e outra do álbum e decididamente peguei a arma e tranquei a porta do meu quarto e ao som de Stranged  e novamente do escuro coloquei a arma na têmpora direita. As substâncias alucinógenas estavam em estado de massa crítica na minha mente o que me levou a um estado contemplativo e então tive a visão :

Uma manha diferente


feijoada na igreja


Depois de ter descoberto as delicias do mundo capitalista, pois alem da pobreza minha família também sempre foi bastante canguinha-Diferente das outras pessoas, preferia gastar minha grana com novas experiências e conhecer pessoas, pessoas diferentes das do meu bairro, da minha família, talvez no fundo, um lugar onde eu não me sentisse desenquadrado. Era o auge do House music ou musica Dance imnportada da europa, ouvia falar muito das Discotecas de Sp que por sua estrutura: raios lazer fumaça e efeitos de luz levaram seus nomes a se tornarem marcas na época. Conhecer as casas noturnas mais badaladas da época traria popularidade a qualquer um de origem humilde tal qual vc tivesse vindo de outro pais, o que me levou a  uma maratona visto que as baladas durante a semana eram promocionais isso me fez gradativamente a frequantar pelo menos 5 casas diferentes de Sp por semana pelo menos, alem de sempre tentar inovar a lista na semanda seguinte- um iron man que ia sempre até as 4:00hrs da manha ( devido ao horário dos transportes públicos ) uma das fases mais imbecis que tive que esperimentar ; pessoas vazias cheias de pose que gostavam de ostentar suas roupas de marca , cabelos de gel, gírias da época , sem a menor conteúdo cultural nem mesmo social, quase uma mistura de orkut com “malhação da tv globo” talvez por isso não tenha carregado nenhuma amizade daquela época . Foi onde aprendi que amigos de verdade não te deixam sozinho numa briga a luz estroboscópica e muito sobre a vulgaridade feminina.

Obviamente, isso foi minha vida por consecutivos 3 meses onde as pessoas da minha vida que menos via era minha família. Num dia de rotina como qualquer outro, saltei no trem na estação de Osasco onde tinha que permanecer no mesmo trem até mais duas estações e estranhamente quando me dei conta estava andando pelos trilhos de trem, Não entendi por que tinha feito aquilo mas achei engraçado, a sensação se repitiu outra vez quando fiquei alguns segundos olhando o ônibus que tinha que pegar ir embora, e quando estava trabalhando e tinha um INSIGHT como o personagem de THE DEAD ZONE e absolutamente esquecia o que estava fazendo- sintomas de perda de memória pela falta de uma noite normal de sono.

Essa vida sem sono não me tirou da rotina religiosa que fazia desde os 8 anos de idade para agradar o fervoroso catolicismo de minha mãe, só que as missas eram as 8 da manhã, mas para mim o real motivo da minha regularidade no ato religioso era que eu podia tocar violão em publico, e ficar rodiado de garotas cantando junto comigo. Muitas e muitas vezes me acordavam quando o padre entrava atrás do altar para iniciar o cerimonial, e toda aquela chatisse de levantar e sentar entre os atos da missa me faziam dormir ajoelhado escorado pelo violão.

Dia da Feijoada beneficiente: daria tudo para ir rápido para casa para dormir, SR Francês ( nunca entendi esse nome pois o mesmo era cearence da gema) tentava acertar as medidas para fazer uma caipirinha em grandes medidas em uma panela industrial , como não apreciava o alcolismo me tirou para ajuda-lo, deixou todos os ingredientes ao meu lado e não voltou mais, eu , debilitado pela noitada, e com fome devido ao horário, a cada acrecimo das partes bebiricava para fazer jus ao perfeccionismo de um bom cultuador da bebida, e que mudava radicalmente minha percepção e cordenação no fim de cada ciclo
Quando realmente acertei as medidas já era muito tarde. A fila de comunitários que estavam comprando a feijoada e esperavam pela caipirinha já dobrava o corredor da igreja.

Com total dificuldade motora sempre banhava o antebraço dos clientes ao tentar acertar os recipientes dos clientes o que gerava certo desgosto em alguns católicos. Eu estava desesperado para sair dali.
- O sr vai querer a sua caipirinha ? então posso pegar a sua? – entrou pela igreja um dependente alcoólico com uma garrafa PET de 2 litros para todas as pessoas da fila a fim de acumular a vez de todos se beneficiando em grande escala.

- Sr ! chegou sua vez – gritei bêbado ao outro bêbado-
-ah ta pode por todas aqui na minha garrafa !
- Não não, a galera me diz que o sr iria vir para me revezar, meu turno acabou.

Mesmo sem entender nada concordou com minha afirmação e empunhou a concha para servir o resto da fila se aproveitando da oportunidade. Por essas e por muitas outras o pessoal da igreja tinha uma certa crítica a meu respeito- Peguei a minha feijoada e depois do ultimo gole naquela caipirinha deliciosa fui para casa ouvir ARISE do Sepultura.

1984


O ano era 1984, andava pelas ruas do bairro da Leopoldina, curtindo o sol na cara protegida por estilosos óculos escuros, dando passos aos ritmos do house do final dos anos 80, quase que dançando- eventualmente isso realmente acontecia em publico- um pacote de cartas da empresa não mão direita, a grana da empresa no bolso . Ser office boy foi minha primeira meta para conquistar 3 intens dos meus sonhos desprovidos de ganância. Um wallk man, um tênis nike e uma guitarra. O motivo da minha dança nas proximidades da central do correios era que naquele momento eu portava um desses íteins, um radio em formato de triangulo com desenhos verde limão. Sempre ao andar por aquelas ruas, lembrava de quão tinha sido duros os dias em que meu pai trabalhava em empresas daquela região como  metalúrgico, e não conseguia chegar a uma conclusão de qual trilha eu seguiria para um dia ter uma carreira profissional.

-“Encosta aí e fica na moral “- disse arregalando os olhos com a mão sob a camisa ameaçadoramente -entendi claramente pela leitura labial por não estar ouvindo nada naquele momento exceto tecnotronic, ao passo que percebi o segundo parceiro se aproximar. Meu wallkman nem fondendo, pensei ! Era o 8º assalto de qual eu tentaria evitar na minha carreira de office boy ”sênior, na tentativa de proteger meu aparelho entreguei de pronto a grana da empresa, comuniquei o fato ao gerente de RH, que me levou a delegacia para tirar um boletin de ocorrência.Naquele momento chegavam os 2 assaltantes, tinham sido pegos pouco depois de me abordarem. O que fez sentir- me mal foi a mãe de um deles através dos advogados  em localizou e visitando minha casa pediu para retirar a queixa 6 meses depois para que fosse liberado do processo. Não foi a única roubada mas foi a mais decepcionante.

Gostávamos de saltar pela porta de traz dos  ônibus para reter o valor das passagens que eram pagas pela empresa para fins de condução ( no final do mês era 100% do salário ou mais)mais a aventura era o maior lucro.
- Av Heitor Penteado sentido DR arnaldo a parte da frente do ônibus vazia porem na parte de traz não cabiam mais office boys, mas aquilo não chegava a ser um desafio, percebi alguns centímetros vagos na escada do ônibus e um pequeno vão na porta sanfonada espremida pelos garotos que estavam na porta enquanto o ônibus já distante do ponto em movimento. Numa determinada carreira saltei naquela oportunidade como se meu futuro dependesse daquilo, como garoava naquele dia as vezes ficava pendurado como uma bandeira na porta. O motorista sempre acelerava nas curvas propositalmente para derrubar os office boys, nós bancávamos o Indiana Jones. Momentos  depois a maioria dos office boys já tinham desebarcado clandestinamente, eu queria ir o mais longe que pudesse haviam apenas 4 de nos nos bancos finais do ônibus, atmosfera eletrizada por uma tensão de duelo de faroeste , víamos sarcasticamente os raivosos olhos do motorista pelo retrovisor interno, quando alguém levanta e grita:

- Policia ! passa todo mundo pra frente seus marginais vagabundos ! Tínhamos pouco tempo para reagir, a porta do ônibus já havia se fechado, era muito pesada para abrir quando se fechava, mas não impossível, 2 de nos se entregaram e passaram a roleta p frente, e enquanto o policial pulava a catraca se aproximando da gente eu já estava forçando a porta para sair mesmo com o ônibus em movimento, o penúltimo office boy apenas me ajudou a abria a porta mas desistiu quando percebeu a proximidade do policial que gritavam pela nossa desistência. Quando percebi a garoa batendo em meu rosto decidi não me entregar, as veias no meu pescoço e na têmpora parecia que iam explodir, o policial a menos de um metro , resolvi saltar pela pequena frenta que consegui . Peso+ velocidade = a força da aceleração, essa equação me aparecia em flashes garrafais enquanto rolava pelo asfaldo da avenida .

Novamente sempre fazia de tudo para sentir o vento no rosto, já era surfista de trem categoria pro com a desculpa de não perder a aula com  o precário transporte publico, apesar de testemunhar algumas mortes de garotos que faziam o mesmo que eu. Mutilações, destroçamento de corpos em segundos por cair entre o vão da plataforma e 2 suicídios, certa vez entre a estação leopoldina e presidente altino aviam 2  fiações elétricas que alimentam os trens (cerca de 400.000v) uma de cala lado, a uma certa altura elas vormavam um V se cruzando, o rapaz que estava na minha frente não ouvi meus gritos contra um vento a 800km /h e foi tostado em menos de um segundo o que fez o trem parar imediatamente.

Mas essas fatalidades não me faziam parar para pensar, só me faziam sentir uma pessoa com uma identidade e uma experiência diferente das outras que eu conhecia. Os office boys tinham um código de honra: deixaram outros furarem a fila, pagavam contas para outros para ganharem tempo entre os bancos para podererm freqüentar os atrativos que o grande centro de Sp ofereciam. Apesar dos chamados fliperamas fazerem parte do cotidiano dessa categoria na época eu particularmente era dado a comic stores, lojas de discos   e cinemas, o que eu era realmente viciado. Porem os amigos da escola comentavam e eu curiosamente sempre passava em frente espandado pelos posters e o baixo preço dos ingressos dos cinemas pornôs. Uma das melhores coisas de se ter o dinheiro próprio é a sensação deturbada de liberdade que isso tinha causado em mim, estava sempre pretendendo usar a liberdade pela subversão de conceitos morais e aquela esperiência batia com a minha atitude.

- Um ingresso por favor!
- quantos anos vc tem  ?
- ... Dezoito. Com uma nota de cruzado novo na mão.       
MOMENTO REFLEXÃO- essa é uma daquelas situações onde a falta de bom censo e experiência te dizem  enfaticamente : VAI, VAI MESMO PRA VOCÊ SE FUDER!

Recebi apenas um olhar rápido por uma fresta da cabine onde vi somente um boné das casas bahia e um largo bigode ao som deum radinho de pilha que tocava a programação brega de uma radio AM como qualquer uma dessas.
Ingresso na mão, depositei numa urna e rodei a roleta, tentando não olhar dos lados nem para trás, receioso de que alguém que conhecesse minha mãe me flagrasse, subi umas escadas com tinta vermelha descascando, sala escura , o filme estava na metade, o cheiro da umidade lembrava de uma caverna, os olhos demoram para acostumar com o ambiente, vc não sabe em que direção deve ir até suas pupilas se acostumarem com a diferença de luz. O filme era interessante, ao que entendi era sobre um orgia de mulheres italianas de biótipos bem diversificados em sem limites sexuais entre elas, nesse momento cerca de um minuto e meio meus olhos se adaptaram aquela escuridão e comecei a captar cenas que deixaram minha mente criada pelo catolicismo um tanto receiosa: 1º só haviam homens , por se tratar de um cinema supus que havaria um publico divesificado, 2º o que eu não imaginava nem após meu contato com o filme de Calígola do fundo do cinema podia perceber na platéia que alguns homens faziam sexo oral em outros, enquanto outros se divertiam com aquelas cenas, minha visão periférica que demorou um pouco mais para se normalizar captei algunas outros comportamentos de sexo homosexuais que aconteciam com mais intensidade entre o publico do que  o próprio filme. O filme era apenas uma desculpa ! Servia apenas de meia luz para climatizar pessoas que não tinham onde manifestar sua sexualidade reprimida.

Ao que minha observação por aquele salão me distraiu por uma mão que tateava no escuro procurando pelo meu pênis, ( Oh shit ! pensei; será que eles são perigosos? Estou em menor numero, onde fica a saída? Ao ao olhar para o luminoso com a inscrição de emergência, uma pessoa abre uma cortina que dava pra perceber alguns casais homosexuais num momento de liberdade de relacionamento aberto ) Mesmo depois de hostilizar aquela mão anônima, a mesma voltou com uma nota de dinheiro no meu colo ... Obviamente que com aquela idade e com a auto estima que sempre tive  cheguei a cogitar a possibilidade de ganhar dinheiro de forma tão radical, mas meu senso de auto preservação me fez escapar daquele lugar num dos 15 minutos mais demorados da minha vida .


testeeee