sexta-feira, 6 de novembro de 2009

1984


O ano era 1984, andava pelas ruas do bairro da Leopoldina, curtindo o sol na cara protegida por estilosos óculos escuros, dando passos aos ritmos do house do final dos anos 80, quase que dançando- eventualmente isso realmente acontecia em publico- um pacote de cartas da empresa não mão direita, a grana da empresa no bolso . Ser office boy foi minha primeira meta para conquistar 3 intens dos meus sonhos desprovidos de ganância. Um wallk man, um tênis nike e uma guitarra. O motivo da minha dança nas proximidades da central do correios era que naquele momento eu portava um desses íteins, um radio em formato de triangulo com desenhos verde limão. Sempre ao andar por aquelas ruas, lembrava de quão tinha sido duros os dias em que meu pai trabalhava em empresas daquela região como  metalúrgico, e não conseguia chegar a uma conclusão de qual trilha eu seguiria para um dia ter uma carreira profissional.

-“Encosta aí e fica na moral “- disse arregalando os olhos com a mão sob a camisa ameaçadoramente -entendi claramente pela leitura labial por não estar ouvindo nada naquele momento exceto tecnotronic, ao passo que percebi o segundo parceiro se aproximar. Meu wallkman nem fondendo, pensei ! Era o 8º assalto de qual eu tentaria evitar na minha carreira de office boy ”sênior, na tentativa de proteger meu aparelho entreguei de pronto a grana da empresa, comuniquei o fato ao gerente de RH, que me levou a delegacia para tirar um boletin de ocorrência.Naquele momento chegavam os 2 assaltantes, tinham sido pegos pouco depois de me abordarem. O que fez sentir- me mal foi a mãe de um deles através dos advogados  em localizou e visitando minha casa pediu para retirar a queixa 6 meses depois para que fosse liberado do processo. Não foi a única roubada mas foi a mais decepcionante.

Gostávamos de saltar pela porta de traz dos  ônibus para reter o valor das passagens que eram pagas pela empresa para fins de condução ( no final do mês era 100% do salário ou mais)mais a aventura era o maior lucro.
- Av Heitor Penteado sentido DR arnaldo a parte da frente do ônibus vazia porem na parte de traz não cabiam mais office boys, mas aquilo não chegava a ser um desafio, percebi alguns centímetros vagos na escada do ônibus e um pequeno vão na porta sanfonada espremida pelos garotos que estavam na porta enquanto o ônibus já distante do ponto em movimento. Numa determinada carreira saltei naquela oportunidade como se meu futuro dependesse daquilo, como garoava naquele dia as vezes ficava pendurado como uma bandeira na porta. O motorista sempre acelerava nas curvas propositalmente para derrubar os office boys, nós bancávamos o Indiana Jones. Momentos  depois a maioria dos office boys já tinham desebarcado clandestinamente, eu queria ir o mais longe que pudesse haviam apenas 4 de nos nos bancos finais do ônibus, atmosfera eletrizada por uma tensão de duelo de faroeste , víamos sarcasticamente os raivosos olhos do motorista pelo retrovisor interno, quando alguém levanta e grita:

- Policia ! passa todo mundo pra frente seus marginais vagabundos ! Tínhamos pouco tempo para reagir, a porta do ônibus já havia se fechado, era muito pesada para abrir quando se fechava, mas não impossível, 2 de nos se entregaram e passaram a roleta p frente, e enquanto o policial pulava a catraca se aproximando da gente eu já estava forçando a porta para sair mesmo com o ônibus em movimento, o penúltimo office boy apenas me ajudou a abria a porta mas desistiu quando percebeu a proximidade do policial que gritavam pela nossa desistência. Quando percebi a garoa batendo em meu rosto decidi não me entregar, as veias no meu pescoço e na têmpora parecia que iam explodir, o policial a menos de um metro , resolvi saltar pela pequena frenta que consegui . Peso+ velocidade = a força da aceleração, essa equação me aparecia em flashes garrafais enquanto rolava pelo asfaldo da avenida .

Novamente sempre fazia de tudo para sentir o vento no rosto, já era surfista de trem categoria pro com a desculpa de não perder a aula com  o precário transporte publico, apesar de testemunhar algumas mortes de garotos que faziam o mesmo que eu. Mutilações, destroçamento de corpos em segundos por cair entre o vão da plataforma e 2 suicídios, certa vez entre a estação leopoldina e presidente altino aviam 2  fiações elétricas que alimentam os trens (cerca de 400.000v) uma de cala lado, a uma certa altura elas vormavam um V se cruzando, o rapaz que estava na minha frente não ouvi meus gritos contra um vento a 800km /h e foi tostado em menos de um segundo o que fez o trem parar imediatamente.

Mas essas fatalidades não me faziam parar para pensar, só me faziam sentir uma pessoa com uma identidade e uma experiência diferente das outras que eu conhecia. Os office boys tinham um código de honra: deixaram outros furarem a fila, pagavam contas para outros para ganharem tempo entre os bancos para podererm freqüentar os atrativos que o grande centro de Sp ofereciam. Apesar dos chamados fliperamas fazerem parte do cotidiano dessa categoria na época eu particularmente era dado a comic stores, lojas de discos   e cinemas, o que eu era realmente viciado. Porem os amigos da escola comentavam e eu curiosamente sempre passava em frente espandado pelos posters e o baixo preço dos ingressos dos cinemas pornôs. Uma das melhores coisas de se ter o dinheiro próprio é a sensação deturbada de liberdade que isso tinha causado em mim, estava sempre pretendendo usar a liberdade pela subversão de conceitos morais e aquela esperiência batia com a minha atitude.

- Um ingresso por favor!
- quantos anos vc tem  ?
- ... Dezoito. Com uma nota de cruzado novo na mão.       
MOMENTO REFLEXÃO- essa é uma daquelas situações onde a falta de bom censo e experiência te dizem  enfaticamente : VAI, VAI MESMO PRA VOCÊ SE FUDER!

Recebi apenas um olhar rápido por uma fresta da cabine onde vi somente um boné das casas bahia e um largo bigode ao som deum radinho de pilha que tocava a programação brega de uma radio AM como qualquer uma dessas.
Ingresso na mão, depositei numa urna e rodei a roleta, tentando não olhar dos lados nem para trás, receioso de que alguém que conhecesse minha mãe me flagrasse, subi umas escadas com tinta vermelha descascando, sala escura , o filme estava na metade, o cheiro da umidade lembrava de uma caverna, os olhos demoram para acostumar com o ambiente, vc não sabe em que direção deve ir até suas pupilas se acostumarem com a diferença de luz. O filme era interessante, ao que entendi era sobre um orgia de mulheres italianas de biótipos bem diversificados em sem limites sexuais entre elas, nesse momento cerca de um minuto e meio meus olhos se adaptaram aquela escuridão e comecei a captar cenas que deixaram minha mente criada pelo catolicismo um tanto receiosa: 1º só haviam homens , por se tratar de um cinema supus que havaria um publico divesificado, 2º o que eu não imaginava nem após meu contato com o filme de Calígola do fundo do cinema podia perceber na platéia que alguns homens faziam sexo oral em outros, enquanto outros se divertiam com aquelas cenas, minha visão periférica que demorou um pouco mais para se normalizar captei algunas outros comportamentos de sexo homosexuais que aconteciam com mais intensidade entre o publico do que  o próprio filme. O filme era apenas uma desculpa ! Servia apenas de meia luz para climatizar pessoas que não tinham onde manifestar sua sexualidade reprimida.

Ao que minha observação por aquele salão me distraiu por uma mão que tateava no escuro procurando pelo meu pênis, ( Oh shit ! pensei; será que eles são perigosos? Estou em menor numero, onde fica a saída? Ao ao olhar para o luminoso com a inscrição de emergência, uma pessoa abre uma cortina que dava pra perceber alguns casais homosexuais num momento de liberdade de relacionamento aberto ) Mesmo depois de hostilizar aquela mão anônima, a mesma voltou com uma nota de dinheiro no meu colo ... Obviamente que com aquela idade e com a auto estima que sempre tive  cheguei a cogitar a possibilidade de ganhar dinheiro de forma tão radical, mas meu senso de auto preservação me fez escapar daquele lugar num dos 15 minutos mais demorados da minha vida .


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