quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Caminho sozinho pela noite...uma procissão que tinha como combustivel as radios alternativas como 97 e brasil2000 fm, um mantra que me hipnotizava em meu walkman a pilha. Meu hobby de higiene mental favorito, habito que religiosamente reincidia alguma vezes na semana e que estava em segundo lugar atras da minha atividade como baterista de uma das 5 bandas em que exercia minha atividade de rocker, seguido também pelo habito de lustrar meus discos de vinil para cerimoniosamente ouvi-los em meu quarto com as luzes apagadas. Descobri que essas incursões ao eu interior era um caminho até o ponto zero. O equilíbrio. Uma zona da consciência onde poderia vislubrar os segredos do passado e do futuro, onde poderia acessar todos os meus talentos e planejar com uma clara certeza o que eu gostaria de ser e impedir tudo que me oprimia e que me força a imagem do que estava predestinado a ser, dentro de uma classe social, de uma rotina segmentada, frustrante, fútil e inóspita. Eu sempre estaria em busca desse centro do universo.

Mas naquela dessa vez não era apenas uma atividade que comumente exercia como uma alma penada que assombrava o bairro nas madrugadas. Estava voltando de uma apresentação de uma das bandas cover’s do Credence. Houve um breve período onde eu era o único cara do bairro estudioso do rock e de toda a subcultura a ele intríscecas. Com o tempo alguns caras também encontraram esse caminho sozinhos e outros foram levados pelo nosso life-style e nossa descoberta pelas substâncias lisérgicas. Culturalmente isso estava acontecendo no mundo todo inclusive. Haviam 2 mundos dentro da cultura pop; o dos artistas do HIT PARADE, dos comerciais e os que apareciam na tv aberta brasileira – aqueles que fingem que tocam fazendo poses sorrisos caras e bocas (últimos períodos antes de seu fatídico ostracismo) e um obscuro e quase secreto mundo de conspirações. Uma pretensa revolução silenciosa que se organizava pela velha cartilha do punk rock, a do faça você mesmo. Depois do final da década de 80 os jovens começaram a virar as costas para o grande mercado fonográfico, e tornara-se “cult” quem garimpava bandas, tendências e vertentes novas. Era legal musicas de bandas de garagem e tudo o que soasse como tal, já que o rock tinha se tornado uma coisa polida, esteticamente produzida demais distanciando-se das raízes, conceitos e desesperança da classe operaria pelo mundo todo. Assim que surgem os movimentos.

Adorava os cortantes ventos frios que acariciavam meus longos cabelos em noites que as ruas ficavam vazias, como um cenário de filme apocalíptico, uma de minhas fantasias secretas. Algumas doses de conhaque com contini sempre faziam parte do ritual. Mas sempre ao passar pelo escadão encontrava com os perdidos na noite, e dessa vez nem estava tão tarde assim; estavam Fabio pinga, Fabio Guns (sempre com seu uniforme completo, calça de moleton, camiseta, bandana e boné do guns n roses) e Gordo, já em estado alterado com o que restava de um grande baseado que já em grande parte já carburava suas mentes.

Apesar do frio diziam que estavam tão alucinados que podiam andar pelados na rua. Idiotices desse tipo surgiam apenas para testar a nossa coragem em tornar real impulsos lúdicos que surgiam em nossas viagens. Eu estava bem “careta” no comparativo com meus colegas do escadão, mas os desafiei a cumprirem o que um deles tinha cogitado.

- Ce ta loco! Mó frio, alem disso você esta blefando, não esta tão chapado assim ... disse Fabio se balançando mareado pos sua brisa psicodélica .

Me despi totalmente enquanto eles processavam as implicações daquele ato, e joguei as roupas emboladas em um pacote, jogando-as na calçada. Como ninguém corria dos momentos de loucura que sempre criava-mos naquela época, todos cumpriram o desafio, para isso era necessária agir primeiro e pensar depois. Resultado; 5 caras pelados no meio da rua um olhando para a cara do outro, quando eu disse;

- Porra, mas não tem graça nenhuma a gente ficar aqui pelado um olhando pra cara do outro como se fossemos um bando de viados, vamos curtir a liberdade! Vamos dar uma volta no quarteirão ...

Ninguém acreditava na minha falta de bom censo no que permeava leis morais e o código penal. Alem do que já tínhamos sido pegos pela policia naquela situação, o que não foi argumento suficiente para os impedirem de aceitar minha idéia.

A cena era essa então; caras cabeludos (com exceção de Pinga e Gordo que nunca deixaram o cabelo crescer) e tatuados andando pela noite fria vestindo somente os tênis andando pelo bairro subindo a rua. Gordo disse:
- Já ta bom, já ta bom, vamos voltar para o escadão !
- Não, vamos até a padaria. Disse eu

Não havia planos caso as coisas dessem errado de alguma forma, mas acreditávamos que não encontraríamos com ninguém, porem ao chegar na ultima esquina do segundo quarteirão, nosso pressentimento materialisou-se em um par de faróis que se aproximava. Numa nula tentativa de controle sobre a situação orientei meus colegas naturistas-noturnos;

- Ninguém corre, senão vai ficar mais ridículo, eles vão passar rápido pela gente ...

Meu palpite tinha um fundamento.O veiculo se aproxima mais, dava pra percever que tinha balões de festa coloridos no interior. É um monza, com uma família cheia de crianças, porem o motorista fez questão de reduzir ainda mais a velocidade ao passar pelo nosso grupo. Cheguei a cumprimentar a família com um breve “tchauzinho” o que fez todo mundo diparar correndo descendo a rua inadvertidamente. Instintivamente, também corri.

Agora a cena era essa; cinco caras cabeludos e tatuados correndo e balançando suas genitais rua abaixo em direção ao escadão.

De volta ao nosso QG, a adrenalina daquele evento foi suficiente para alguns, para mim e Fabio Guns era o começo da noite. Evitávamos a todo custo voltar para nossas conturbadas famílias. Econtramos então com alguns conhecidos da rua 3 e depois de algumas cervejas esvaziadas em algum buteco, resolvemos acompanhar pela carona dos mesmos a alguma noitada. Conhecendo bem as figuras sabíamos que rolaria cocaína, o que não era motivo para minha


SOBRE ALLEN


Tião não era exatamente uma criança brilhante, criado pela mãe morando nos fundos da casa de um primo, Sebastião largaria o colegial quando o mesmo se tornasse um suposta opção ao seu trabalho. Tinha medo de dormir no escuro depois de ter tido uma experiência sobrenatural numa noite em que se encontrou com um espírito de uma menina vestida de noiva no beco do escadão- sempre achei que isso fosse cascata, mas ele alega que via no rosto da moça que ela queria lhe dizer algo- Porem, conforme fui o conhecendo, despertou minha curiosidade que na verdade sua mente era um algoritmo altamente eficiente para cálculos de possibilidades que satisfizessem sua lascívia. Tião era capaz de ver uma freira discursando sobre atividades missionárias e pensar em sacanagem. Alem se ser o mestre em criar situações que levassem a um final climático onde houvessem expectativas sexuais.Apesar de todos nos o acharmos um cara muito esquisito, ele sempre foi o cara da turma que sempre tinha uma inacraditavel facilidade em “pegar” mulheres.

Depois de um final de semana com uma galera que conhecemos numa casa de praia do litoral norte de Sp, voltamos a nos encontrar. Era uma galera muito bacana mesmo. Quando nos conhecemos na praia não acreditamos na exuberância de corpos das garotas, sendo que Tião tinha conseguido ficar todo um final com a garota mais gostosa daquela galera. Um final de semana de carnaval de fazer inveja ao roteirista do filme “Lago Azul”. E ele passou muito tempo se gabando disso. Ao chegarmos na festa onde todos estavam reunidos, todos o receberam de maneira muito calorosa;

- Olha aí o cara... esse é o cara! Não acredito que você veio, você é um herói.

Também pensei mesma coisa que Tião; “Que puta moral hein? O cara comeu a mina que todo mundo tava interessado”

Mas daí, dessa roda de lobos com copos descartáveis de cerveja gelada na mão que veio o balde de água fria que nos perseguiria durante os próximos meses. Em dado momento um deles chamou Allen de canto e perguntou;

- Meu, é verdade que você comeu a Sônia? Tião com o peito estufado de orgulho respondeu:

- Claro! Na praia, no chuveiro, no meio do mato, na dispensa da cozinha e no quarto em que todo mundo dormiu junto, mas bem devagarinho para não fazer barulho...

- Putz... então pode fazer o exame que você ta com AIDS cara!

A garota em questão era uma especia de “A dama da lotação” do bairro e haviam fortes indícios que hospedava o vírus mortal que era a bad trip do momento. A Aids na época era uma doença terrível e obscura, não se sabia muito sobre ela e a expectativa de vida era muito curta. Fred Mercury tinha acabado de falecer. Eu quis levantar a moral de meu amigo para não baixar o astral ali no começo da festa, mas ele me disse que nunca tinha usado camisinha na vida. Mas eu também lembrei que tinha participado até de sexo grupal casual com contato íntimo e que nunca mais tinha visto nenhuma daquelas pessoas. A cerveja descia com um gosto amargo.





"SE EU TENHO O QUE?"



Estávamos em uma loja de grife de surfe, dessas que contratam lindas “tenagers” para chamar atenção da clientela, ALLEN como gostava de ser chamado em vez de Tião ou
Sebastião quando atacava na azaração, estava apenas acompanhando minha compra, mas resolveu comprar uma camisa ao perceber um flagrante e obvio flerte por parte de uma das vendedoras. Me disse então que iria aplicar seu “chaveco” no momento daquela compra. Se olharam então fixamente. Como numa cena de filme de Julia Roberts, Tião pensou numa eficiente cantada adequada para aquele momento.Então disparou:

- Você tem mictório?
- Como ?
- Se vocês tem mictório nessa loja?

Visivelmente desapontada a garota indicou-lhe o caminho. Ele ainda conseguiu o telefone da loja e um encontro com a vendedora posteriormente. Ele era imbatível. Quando o conheci achava que o que ele tinha de melhor era sua irmã, uma morena linda, meiga e graciosa que fui secretamente apaixonado durante muitos anos, Tião era capaz de dizer e fazer as coisas mais estúpidas e improváveis, o que me dava muita raiva, mas com o tempo ficamos amigos pelo fato de que era a única pessoa capaz de acompanhar as minhas idiotices também.

Certa vez ele me convidou para uma excursão para uma praia chamada Perequê que estava sendo organizada por um motorista de ônibus que morava de aluguel na nossa rua. Ele ficava com o carro nos finais de semana, para livrar uma grana, ilegalmente organizava excursões. Estava na cara que era uma puta roubada como varias em que Tião tinha me colocado, mas fui pelo motivo que Cecília, irmão do Tião iria e que o motorista me garantira que só iria nossa garela, em peso. Preparamos nosso microssistem com uma coletânia de rock e algumas garrafas de conhaque para tomar pelo caminho. Gordo levou também um kit de maquiagem para pintar quem dormisse primeiro.

Não me acho no direito de julgar, mas acho que devido a falta da figura paterna (ou talvez algum outro fator determinante) fez com que Tião fosse um cara ligado ao sexo de uma forma muito intensa, ele realmente acreditava que podia tratar as mulheres como ele via nos pobres roteiros de filme pornô . Andar com Tião era como sempre estar numa comedia hollywoodiana sobre sexo adolescente. Sempre foi para todos um amigo incondicionalmente fiel.



Lucas seu primo me contou que eles tinham uma vizinha linda, loira de olhos azuis, parecia um princesa Dinamarquesa e que devido a intimidade dos dois cresceu uma atração que resultou numa seguro acordo de experimentarem juntos as delicias das experiências sexuais. Combinaram então uma data. Lucas empolgado e orgulhoso de sua conquista, contou a seu primo em primeira mão, que pediu para que repetisse a historia varias vezes para confirmar todos os detalhes ouvindo com os olhos petrificados. No dia fatídico, que por sinal era um dia em que Lucas ficaria em casa com os pais ausentes. Seguindo a risca a cartilha dos cafagestes, depois de apreciar com a jovem moça uma seção de pornôs em VHS, a levou para o aposento de seus pais no andar de cima. Na Plenitude das metódicas preliminares carícias distribuídas pelo corpo lânguido e alvo da loira, eis que para espanto dos dois e para horror da menina, surge por debaixo da cama, como uma naja se posicionando para o ataque, Tião, que ficara por horas de tocaia no lugar que ele consideraria mais provável para a consumação do ato. Ele achava que como nos filmes, ele conseguiria convencer a moça a um ménage somente com o argumento de que já estavam os 3 na cama.


Antes do ônibus sair do bairro, o motorista fez uma inadvertida incursão pela periferia de Osasco. Todo nossa empolgação acabou ao vermos que 70% dos lugares do ônibus seriam preenchidos por pessoas que subiam a rua em fila indiana com topos os tipos de instrumentos percussivos utilidados por uma ESCOLA DE SAMBA. Eram pessoas realmente de aparência deplorável, mesmo para nos que não nos chocávamos com pouco. Chegamos a ver que um deles ao levantar os braços para guardar uma mochila no compartimento interno do ônibus estava com uma arma na cintura. Tinha uma cruz com escadas grosseiramente tatuada em um braço e uma imagem de Nsª Aparecida no outro – código de homicídios no catalogo de tatuagens de cadeia – Algumas das garotas, as acompanhadas inclusive, se interessaram por Fabio e claro por Tião .No decorrer da viagem numa tentativa de fazermos amizade, algum dos nossos negligentemente ofereceu a garrafa de Conhaque para a galera do fundão enquanto mandavam todos os clássicos que não conhecíamos do samba brasileiro. O batom que Gordo trazera fugiu de suas posses.

Em menos de uma hora estávamos tentando apartar brigas dentro do ônibus, garrafas de conheque eram atiradas pela janela nos carros da marginal, e uma ameaça de morte incorria devido ao ameaçador perceber que teve o rosto pintado de palhaço enquanto dormia embriagado. Eu e Tião, numa tentativa de sobreviver aquele “expresso para o inferno” sentamos próximos ao motorista enquanto o mesmo suava entre as curvas da serra do litoral norte. Quando o mesmo nos confessou:

- Putz eu tinha que ter levado o ônibus para dar uma reparada nos freios, estou totalmente sem freios, se eu não sou um bom piloto a gente tava fudido aqui !
- PORRA DÁ UMA ENCOSTADA AE CARALHO ! Disse eu e tom sarcástico porem alarmista.
- Relaxa ! To só nas reduzidas, só nas reduzidas!!!!!! Diz o motorista.

Az vezes isso era um saco! Nosso comportamento atraia esse tipo de pessoas e esse tipo de situação. Mas as historias de aventura nunca faziam que nos nos arrependêssemos de nada que fazíamos.Ao chegarmos à praia, sacamos o tamanho do prejuízo; A praia inteira tinha apenas um lugar para tirar o sal, mas era em torneiras de um banheiro que por estar com encamamentos intupidos possuía 40 centimetros de detritos alagando o chão. Não havia o que comer com exceção de espetinhos de camarão que rodavam na mão de vendedores suados com mãos à milanesa com areia e óleo. Freqüentes brigas em grupo de pessoas altamente alcolizadas .Descobrimos que no lugar de areia ela possuía um barro preto. Rapidamente Tião e eu combinamos que depois que todo mundo dormisse nos cobriríamos de lama preta. Ficamos parecidos com um monstro de filme dos anos 50. Passamos a tarde toda assustando pessoas que dormiam pela praia e eram acordadas por aquela figura monstuosa ! Isso foi o que realmente fez valer a pena a viagem.



Nos tornamos então melhores amigos e companheiros das historias mais inacreditáveis ate hoje mesmo pelas testemunhas da época. Tião e Manuel foram os dois caras da galera que tiveram carros. Nos revesavamos então, para rachar, gazolina e rodadas de cerveja pelas noitadas afora, onde descobrimos que na verdade carro não é o segundo pênis do homem, é o primeiro. Mas frequentemente alguns de nos ficávamos por anos desempregados, o que não nos separava na hora da noitada, isso ate aparecerem os carros.




"NOBODY GONNA GET MY CAR ..."

Manuel aprendeu a dirigir assim; um dia ele entrou num carro deu a partida e engatou a primeira marcha. Saiu com o carro e fez todo o percurso na primeira marcha.Só . E dirigiu assim por cerca de 2 anos com sua brasília recém adiquirida. Isso não o impedia de voltar para casa tão bêbado a ponto de confundir a geladeira com o banheiro, e isso não foi uma piada. Ele realmente chegou a esse ponto. Nem nunca o impediu de se gabar para garotas sobre seu carro quando as convidavam para um “role”.

Num final de alguma semana dos anos 90, em que as coisas estavam financeiramente ruins para eu e Tião, Manuel nos convidou para um bar onde serviam cervejas em taças do tamanho de aquários onde pretendia levar uma garota que estava planejando pedir em namoro. Condição; não poderíamos chamar o Gordo, pelo falo de ele como nos estar desempregado.




Solidadiramente contamos para o Gordo que indeferimos o convite pelo péssimo caráter da proposta o que o deixou feliz pela cumplicidade mas triste pela atitude de Manuel. Ficar num sábado em casa pra mim era um crime, mas não nos excluíamos daquela forma.

5 hrs da manhã, telefone toca é o Tião;

- Mano você não acredita ...
- Morreu alguém?
- O manuel pegou o fusca de seu cunhado e o carro parou em plena Av dos Autonomistas e ele não tem como voltar, esta me pedindo um S.O.S, vou ou não vou ajudar? O cara foi muito filha da puta com o Gordo, ele não merece ajuda!
- Caraleo, eu acho que você tem que ir, e tem mais eu não perco isso por nada! Vou junto.

Ao chegarmos no local, Manoel já estava com sua camisa social toda suja de gracha, sua pretendente mais parecia uma menininha assustada de 9 anos de idade, e ele já tinha tentado de tudo. Numa rápida olhada no motor do fusca, Tião constatou que o cabo do acelerador do carro tinha quebrado a ponta, nada que um alicate não resolvesse. Bastava puchar uma parte maior do cabo e prende-lo na aste do acelerador para que o pedal puxe novamente fazendo a rotação do motor funcionar novamente. Mas Tião queria vingança, me propôs então uma solução genial, em cumplicidade com o crime me dispus a voltar com o carro dele. Manuel estava desesperado;

- Puxa manos, desculpem por acordarem vocês a essa hora, estou com medo de ter estragado o carro do meu cunhado. Tem jeito de arrumar aí Tião?
- Não sei não Manuel, mas a gente tem que levar essa galera de volta pra dar uma olhada melhor, então eu preciso que você faça uma coisa pra mim...
- QUALQUER COISA, EU FAÇO QUALQUER COISA PRA GENTE SAIR DAQUI!
- Você senta no pára-choque do fusca e segura o cabo do acelerador ok? Eu vou ligar o carro e faço sinais com o braço para você. A cada sinal você da uma puxada de leve no cabo e eu de dentro do carro vou trocando as marchas.

Insanamente Manuel aceitou a proposta. Sentado no pára-choque do fusca, que é muito baixo, Manuel segurava a tampa do motor com uma mão e com a outra esticava o cabo do acelerador ao mesmo tempo que arqueava as pernas para o ar para não se ralar no asfalto. Tião fazia movimentos com o braço para fora da janela, mas os mesmos movimentos que ele fazia para acelerar era os mesmos que ele usava para desacelerar .Teve momentos em que o carro alcançou até 80 km/h. E Manuel sem ter consciência de que o aumento da velocidade do carro estava em sua mão que já sangrava pelo contato com as ferpas do cabo de aço, gritava em vão pela avenida:

- VAI DEVAGAR TIÃO, TÁ MUITO RÁPIDO, VOU CAIR, VOU MORRER!!!

Até aquela noite eu nunca tinha ficado com o abdômem tão dolorido de tanto rir. As pessoas que testemunhavam a cena pelo trajeto não acreditavam nem entendiam o que estava acontecento ao ver aquela cena. Manuel saiu para a sua pretendente como um herói casou se com ela e teve 2 filhos. Mas a diversão para nos valeu muito mais a pena.






PRIMEIRA FESTA


18 anos, fase de quartel. Os caras mais velhos nos aterrorizavam com historias sobre o exercito e sobre o dia da apresentação para o recrutamento. Conheci um sargento no colegial que me liberaria do serviço militar, para que eu evitasse a vida de malhação, serviços de pedreiro, enfim tudo o que inevitavelmente eu tive que fazer por conta própria nos anos seguintes. Acreditando no que me diziam sobre ficar nu para ser examinado, me apresentei de madrugada no 4º BIB. Depois de muito esperar e ver outros caras serem achincalhados por causa da aparência, altura e cabelos compridos fui orientado a seguir para um pavilhão interior onde um sargento pediu para que ficássemos de cueca. Tudo ok se não fosse o fato que segundio intruções dos colegas fui sem a mesma;

- Eu pedi para ficar de cueca conscrito! Gritou o sargento
- Não uso cueca senhor! Respondi temendo o pior.

Depois que recebi o carimbo da dispensa decidi me perder no mundo no edonismo como nunca tinha feito antes, então num dia em que eu e Tião socorríamos uma bananeira num barranco, eu com uma grossa camiseta preta tentando esconder minha a sicatrização da minha primeira tatuagem, sob a supervisão de minha mãe e meu pai, planejávamos minha festa de 18 anos – a única festa de aniversario que tive.

Acreditávamos que como o trabalho tinha sido muito duro ficaria mais fácil vencer o ortodoxo, sistemática, e entiquado humor dos meus pais. Quase tudo saiu perfeito se não fosse o fato de para poupar minha camiseta nova do RAGE AGAIST THE MACHINE das nódeas(sulco de bananeiras que mancham qualquer tecido)enquanto cortávamos a bananeira no hercúleo trabalho em meio a lama do fundo do quintal de casa.

Como a parte de cima da casa (que era separada) estava pelo acabamento, meus pais- que dormiam muito cedo- poderiam ficar sem se incomodar MUITO com o barulho, apesar de eu temer que as coisas saíssem um pouco do controle, visto que eu já tinha uma reputação devido aos finais de semana ROCK que eu fazia acontecer em frente de casa;

Um dos meus sonhos era ter um 3 EM UM ( na época eram chamados assim os aparelhos de som que tinham; toca discos, toca fitas e radio, alem de que tinham os decibéis mais altos do mercado nacional para aparelhos de som domésticos) Consegui um bom negocio com um vizinho de Tia Rosa que me ajudou a trazer de Sto Amaro para Osasco. Aquele aparelho foi meu coração, minha alma, meu amigo, meu professor durante muitos anos. Nos finais de semana a única maneira de curtir toda a sua potência, segui um retórico conselho da minha mãe e colocava as caixas de auto-falantes – com fios alongadores – na calçada em frente de casa. Então era assim; Guns n Roses, Ramones, De Falla. The clash, Sepultura e tudo o que me trouxessem, no volume maximo até esvaziarmos todas as garrafas que apareciam ou ate nos esgotarmos. As vezes nem íamos para casa, dormíamos ali mesmo.

A maconha já estava presente nas nossas vidas, mas alem do vinho nenhuma outra substância era tolerada. Nunca houve brigas, houveram amores que se iniciaram ali, houveram planos de vida que surgiram ali, muitos de nos nos viciamos em nicotina naquelas noites, houveram pessoas que tomaram rumos e adotaram hábitos adiquiridos ali. Amizades eternas, bons momentos com pessoas que hoje já não estõ entre nos. Era a época da descoberta da liberdade, da sexualidade e do compromisso social. Nos descobíamos como pessoas e não gostávamos do que víamos, mas seguindo discursos de Jim Morrison, aprendemos a conviver com nossos demônios interiores festejando e mandando tudo a merda.Tínhamos a urgência de experimentar tudo ao maximo .

Numa noite em que cerca de 20 caras estavam mais altos do que de costume, ao som de Doors e em volta da fogueira perdemos totalmente o senso de moral quando alguém se levantou e gritou que só estaríamos livre das nossas dores se nos despíssemos de nossa moral- tirando as roupas. Todos estavam muito hipnotizados pela climática THE END de Jim Morrison para questionar a lógica e a realidade.

A sensação de subverção é uma coisa perigosamente prazeirosa para algumas pessoas. Fabio “pinga” ao perceber 4 carros se aproximando, na certeza do impacto psicológico que causaríamos resolveu conclamar a todos que cobrassem pedágio de quem passasse e na euforia aproximou-se do primeiro carro. Para seu espanto, acenderam-se sobre o teto do carro seguido por uma breve sirene, as luzes da viatura policial.

Quem estava mais longe consegui fugir com as roupas na mão, eu como a maioria vesti rapidamente meu jeans super-rasgado da época grunge, mas não foi o suficiente para evitarmos armas apontadas para nossas cabeças e escoriações que ganhamos pelas mãos dos cacetetes dos defensores da lei. Já tinha passado por isso antes na minha época de pichador, sabia como proceder, ouvia os gritos respondendo respeitosamente o básico, o subversismo acabava ali, sob a mira dos PM’s, apesar da certesa de que meus pais nunca me tirariam de uma delegacia, minha maior preocupação era o equipamento de som. A princípio parece que os policiais se simpatizaram com nossos gostos musicais. Até saiu barato.

Mas a festa dos meus 18 anos prometia algo sem limites, compramos iluminações na Sta Efigênia, Tião convidou um primo que tinha uma pretenso grupo de dança (boyband wannabe) que trouxerem luzes estroboscópicas; Ao contrario de meus amigos rockers eu era simpático á cultura hip hop e um amigo Dj viria trazer um equipamento de som maior do que o meu e uma discografia mais variada- desde que não fosse pagode ok! Ele morava na favela do São Pedro próxima de casa, uma rua que não tinha asfalto na época e devido às chuvas e uma obra da Sabesp naquela semana o acesso ao equipamento do cara era uma causa perdida. Mas causas perdidas para nos era nossa especialidade. Um amigo que foi um dos primeiros participantes do Sepultura-fã club tinha um Jeep Bandeirante e se propôs a se aventurar com a gente.




Com muito custo MESMO, o Jeep chegou ao barrado de nosso amigo Dj que não acreditava naquilo. As caixas dele eram tão grandes que quase não couberam no BANDEIRANTE;

- Vocês são malucos mesmo manos, só vai ter rockerio lá?
- Hoje vai ser Rap com rock MALUCO!!!!!!!!

Na volta, ao som de Arise( um dos melhores discos do Sepultura) eu e Rozenildo fazíamos contra peso do lado de fora do Jeep para passar pelos buracos cheios de lama e eu pensava; “putz o cara nunca mais vai conseguir tirar essa lama, que roubada ...” Mas pelo retrovisor eu o via rindo e imitando Max Cavalera; “ O que liga é isso manos, rasgar barro com Jeep ...”

Alguém preparou um bolo de chocolate com uma vela preta de macumba em cima, alguns de nossos amigos estavam dando uma de garçon Go-go boy de sunga e gravata borboleta servindo umas batidas lokas que o Gordo passou a semana fazendo cuidadosos testes etílicos. O que durou pouco devido a alguns “cuécões” que tomaram alem de beberem mais do que serviam. Alguém convidou um grupo de motoqueiros do Corvos Motoclube e surgiram pessoas de todos os lugares, eu não conhecia 80% das pessoas da festa.

Muitos saíram na metade da festa devido aos montinhos e rodas de pogo que rolavam no decorrer da noite, nem rolou a apresentação do grupo de Marcelo o primo do Tião. Muitas das meninas não sabiam nem quem era Jhon Lennon, mas se produziram como se fossem invadir uma noite gótica. Depois de 2 hrs de festa estavam altamente alcolizadas e alucinadas.

Houve uma época em que no meu bairro eu era a única pessoa que colecionava discos de rock. Numa madrugada e num buteco qualquer conheci Reginaldo, um cara de costeletas de Elvis na ultima fase, bem mais velho que eu que se espantou com o meu conhecimento sobre o assunto e nessa noite ele estava dois bairros longe da minha casa e foi para a festa se guiando pelos sons que estava ouvindo pela vizinhança. Quando chegou, não acreditou no pandemônio que testemunhou.

Eu me sentia um rockstar, todos queriam me conhecer, as mulheres flertavam comigo, isso não era comum pra mim e eu estava a fim é de zuar muito não tinha pensado que isso pudesse acontecer comigo. Fui arrastado então por uma moça bem mais velha que nunca tinha visto, para a parte de traz do quintal de casa. Percebi que a lascívia era agressiva, e eu não iria fugir daquilo, mas fomos interrompidos primeiramente por 2 outros casais que estavam no mesmo lugar com as mesmas intenções e que não tínhamos percebido. Fomos para o quarto, e daí eu realmente me vi como Jim Morrisson no filme de Scorseze. Nunca tinha transado com uma mulher tão aluscinada daquele jeito, eu achava que aquelas coisas existiam somente nos filmes pornôs mais pesados que fizeram minha educação sexual. Por pouco aquilo não me rendeu problemas futuros.






BANDA CENTRO DA TERRA

Ela era alta, loura, tinha cara de quem sabia fazer altas performances sexuais. Havia boatos que teria sido trazida do nordeste por um senhor de meia idade solitário, que a tratava como escrava sexual e que depois de alguns anos teria se libertado daquela situação e estava namorando com um cara da rua de baixo. Eu não sabia seu nome quando eu me encontrava com ela pela rua, ela me olhava com desejo. Tínhamos amigas que passavam horas com a gente papeando no escadão, nos tornamos muito íntimos de algumas delas, a ponto de nos confidenciarem suas primeiras experiências sexuais. Isso para o Tião era como ser devoto de uma fervorosa religião. Numa dessas deliciosas noites uma delas mencionou que conhecia essa loura, e que ela morava na rua debaixo com o suposto namorado e que procedia todas as historias que havíamos ouvido a seu respeito. Ela não era fiel ao namorado, era uma espécie de ninfomaníaca, porem so fazia sexo anal. Sexo vaginal somente para o namorado...

Nesse momento mesmo sob a meia luz do beco do escadão, podia ver as pupilas de Tião se dilatarem como quem tivesse acabado de injetar uma forte dose de heroína. Obviamente, em pouco tempo depois, Tião estava tendo um caso com a garota, e num dia em que iríamos ao show de alguns amigos enfim, eu conheceria essa mitológica e emblemática figura.

Depois de passamos a tarde tomando cerveja no bar do Lobeca ( um de nossos poits de divagação e filosofia acerca da vida ) abastecemos nossas mentes com alguns baseados de camarões realmente legítimos em potencial. Pude perceber sua eficácia quando Cecília me perguntou as horas e eu olhava para o relógio e simplesmente não conseguia ler as informações entre os ponteiros.

Como nessa época ninguém tinha carro, e toda nossa grana era para bebidas, resolvi fazer um lanche em casa antes de sair. Estava só em casa pois meus pais estavam no supermercado, demorariam. Pela janela da cozinha vi Gordo e Tião se aproximar com a loira que tanto falávamos. Ao recebe-los pedi para que o casal aguardasse no meu quarto ouvindo o som alto que estava rolando enquanto dividia meu lanche com Gordo.

Havia ali um cenário favorável as execuções maquiavélicas de Tião. Mexendo em minhas coisas a garota descobriu uma pilha de resistas pornôs, então meio sem graça Tião me aparece na cozinha. Ciente do que era inevitável antes que ele me pedisse qualquer coisa orientei:

- Apenas feche a porta, estamos saindo em meia hora certo?

Minha mãe consciente de minha reputação de loucura tirou todas as trancas da porta de meu quarto, apenas dava p encostar a porta, o som abafaria os gemidos sexuais. O conservadorismo e austeridade de minha mãe eram conhecidos por todos. Fiel devota de Nsrª Aparecida era muito corola e uma das mais ativistas da comunidade católica local, defensora fervorosa da moral e bons costumes. O som auto não me fez perceber que voltaram do supermercado surpreendentemente tão cedo. E me choquei ao vê-la entrar pela cozinha com algumas sacolas de supermercado nas mãos.

Tinha pouco tempo de criar uma situação que a impedisse de se deparar com a cena de alcova:

- Mãe acho que o cachorro fugiu para a rua e foi atropelado, esta deitado a tarde inteira. Tomando as sacolas de sua mão já na porta.

Pude perceber que meu pai tinha sacado algo errado. Soltei as sacolas no chão e corri para o quarto, enquanto Gordo tentava ganhar tempo conversando com meus pais. Batia na porta para faze-los saírem com urgência mas o frenesi e o volume do barulhento disco INCESTICEDE do Nirvana, me fizeram invadir o quarto com a consumação do ato em pleno acontecimento. O casal estava em uma posição que impedia um contato visual direto com a porta, a moça estava com o vestido levantado até a cintura, só tive tempo surpreende-la cutucando sua nádega (o que provocou um breve grito de horror):

- Sai rápido que minha mão chegou ...- voltei rapidamente para a cozinha.

- Parece que o cachorro esta bem...ele “obrou” sangue?
- Sei la, me pareceu doente, mas quieto do que o normal, como ele tem habito de fugir...- soando frio, enquanto meu pai dirigia-se para o interior da residência.

Felizmente encontrou Tião de mãos dadas com a garota no corredor da casa;
- Boa noite dona Branca.- eu não acreditava em sua cara de pau! Essa aqui é minha namorada!

A garota transparecia suor e diversas cores em seu rosto alvo.- Você quer tomar algo, tipo água com açúcar? ( ofereci sarcasticamente à garota). Esse foi nosso início de noite, bebíamos em todos os bares que encontrávamos na procissão que fazíamos no caminho do show. Tião gabava-se de um coturno que ostentava com placas de ferro internas na ponta. EPI de metalúrgico.

Só eu sabia quem eram os integrantes da banda Centro da Terra. Havia uma loira com aparência de vampira sentada em algo que na escuridão do ambiente parecia um degrau. Era um amplificador marshaw coberto com uma capa escura,Tião sentou se ao lado da loira, o que fez receber um intimador tapinha no ombro. Esse cara meio calvo de forte sotaque paulistano, com munhequeiras de espinho e camiseta do Iron Maidem ers Silvano, guitarrista do Centro da Terra;


- Ae doidão, sai daí que a loira é minha e voce esta sentado no meu amplificador.

Ele levantou, contratirado, trocou olhares intimidadores e frases desafiadoras. Houve um princípio de briga, qual conseguimos conter. Gordo e a loira arrastaram Tião para o balcão do bar. Ao som de uma banda punk, Silvano me disse que se o cara estivesse comigo era para eu segura-lo caso contrario o tempo fecharia.

Algum tempo depois já estávamos bem altos, agitando nas rodas de pogo, nossas camisetas pretas já colavam de suor no corpo. Formos ao banheiro para dar uma esvaziada na cerveja, ao som de uma musica do Stooges, Tião chutava as privadas do banheiro fazendo um som de metal sobre a louça. Enquanto eu e Gordo chutávamos as latinhas contra as paredes. Num dado momento Silvano dirige-se ao mictorio, ao ouvir as latinhas ricocheteando olha por cima do ombro e vê apenas Tião chutando os pênalts. Sebastião nem tinha percebido a presença de Silvano, mas começou ali uma briga com cara de filme de Quentim Tarantino. Eu e gordo, em vão, tentávamos aos berros convencer nosso amigo que ele acabaria com nossa noite, mas não conseguimos impedi-los que se esmurrassem e jogassem um ao outro contra os mictórios. Foram necessários 5 seguranças para segurar Sebastião sozinho. Engravatado por um “mata-leão” Tião foi arrastado para fora do recinto, o que encerrou nossa noite com um saldo satisfatório de arruaças.



REVANCHE
 

Tião teve manteve um caso com essa garota loira por um breve período, mais do que eu imaginei que duraria. Os dois dividiam uma busca por realizações de fantasias sexuais que ambos não conseguiam resolver com outras pessoas. Mas o fato de eu ter os interrompido no ato do coito, mexeu com a imaginação dela, que no meio de uma brincadeira lhe confessou que queria transar com nos 2 ao mesmo tempo. Tião não podia deixar de me propor uma das formas de sexo casual que faltava em sua lista. Uma lista de um cara que mensalmente contabilizava com quantas mulheres ele tinha transado. Eu fiquei pasmo com a proposta, e achei que era muito macho pelado junto para uma cena de sexo, duvidando então do limite de pudor de Tião condicionei a realização ao aumento de contigente feminino. Uma suruba? Perguntou ele. 2 casais somente, esclareci. Inacreditavelmente uma semana depois, Tião já tinha em seus planos um carro, um motel e 3 garotas para fecharmos a execução de seu plano. As garotas já tinham participado desse tipo de festinha e nos alertaram que motéis não permitem entrada de grupos de casais e planejaram elas mesmas quem entraria no motel no porta malas do carro. Um carro que Tião consegueria emprestado para a noite.

Isso fez seu conseito subir muito como sua parceira sexual.Ele conseguiu leva-la para uma fazenda que seu tio morava como caseiro, e num carro no meio do bosque em plena transa com seu sotaque nordestino ela lhe confidenciou:

- Ah para, me da um tempo pra eu te contar uma coisa:
- Depois você conta ...
- Não, é serio! Sabe... tem uma coisa que eu não tenho coragem de contar para ninguém, mas você me completa, você faz eu me sentir livre, então eu quer lhe dizer isso;
Atônito ele silencia, sabendo que coisa boa viria ali;
- Eu tenho uma fantasia de ser abusada sexualmente!
- Tipo estupro?
- É com violência!

Insandecidamente ele imobilizou a garota virando-a de bruços sob o banco recostado de uma Parati. Ela tentava o impedir e ele justificava que era um abuso. Ela pedia que ele lhe batesse, ele não acreditava no nível de adrenalina que estava sentindo, ela repetia; Me bate, me bate, ele bombava freneticamente sobre os largos quadris da moça, e curtindo a suavidade das costas lânguidas da moça sob a luz do luar resolveu atender aos pedidos da moça desferindo-lhe uma forte cotovelada em sua coluna vertebral. O que interrompeu imediatamente aquela que seria a ultima noite de sexo violento com sua amiga de momentos alucinantes.




Eu frequentava ensaios de varias bandas em Osasco, era ativista do rock de garagem. Então fui ao ensaio do Centro da Terra tentar me explicar para o guitarrista e bandleader. Silvano era tempestivo mas muito gente fina e rimos muito relembrando toda a situação. Para resolvermos todo o mau entendido me convidou a um próximo show que seria num bar locar chamado de NATION PUB.

Eu sabia que Tião não iria por nada do mundo se encontrar novamente com aquele cara, mas como eu, não perdia uma balada por nada. Planejei então como se fosse um encontro incidental, mesmo a banda sendo a HEADLINER da noite. Silvano estava ciente.

NATION PUB já teve posteriormente 2 outros nomes; NATION com o mesmo dono depois que se consolidou como point da cultura alternativa-rock e LED depois, num curto e ultimo período sob nova direção. Quando trabalhava na Editora abril, no turno de 14:00hrs as 22:00 não tinha muitas opções de baladas próximas. Conheci um punk que morava sozinho nos fundos de uma casa na Av Maria Campos, a casa parecia o porão de algum albergue ou brechó.

- Você tem que conhecer o “NATION” sempre me dizia ele com o olhar petrificado e expressões faciais que surgiam e desapareciam de maneira letárgica, como todos as suas expressões corporais. Eu acreditava que esse era o resultado final de anos de uso de LSD que me ofereceu em algumas de nossas expedições a bares suburbanos de Osasco que tinham temática HEAVY METAL.

Mas quando fui pela primeira vez ao Nation Pub foi amor a primeira vista. O lay out denunciava sua atividade anterior; era uma casa de esquina posicionada no lado Oeste da praça, ao lado do colégio Bittencourt. As duas paredes que faziam esquina com a rua ainda conservavam os batentes que se encaichavam vitrines de uma loja. Calçadas suspensas do lado de fora favoreciam cerca de 1 metro suficiente para mesinhas e 2 cadeiras, ideal para pratica de divagações ideológicas caractetisticas do publico bixo grilo. Havia um anexo na parte de traz que levava o cliente para um corredor que não conduzia a lugar nenhum que era iliminado apenas pela iluminação da rua que adentrava por vitrais roxo e verde em janelas em forma de escotilha Porem ao lado desse corredor havia um compartimento sem janela, sem iluminação que tinha um violão pendurado na parede e algumas poltronas. Ideal para curtir nossas depressões, revoltas e crises existencialistas, mas o que acontecia mesmo era uma troca muito salutar de energia. Redecorávamos as paredes com frases de nossos ídolos e de nossas musicas favoritas, combinávamos viagens lúdicas e nos descobríamos em nossas almas perdidas. O volume do som só não atrapalhava as conversas por que as pessoas falavam muito alto e também era ideal para conversas ao pé do ouvido das garotas headbangers de maquiagem pesada que faziam do carregado e esfumaçado ambiente uma atmosfera cult que só tínhamos lido em artigos sobre o CBGB. Aquilo era minha segunda casa, o punk que conhecera no trabalho não era uma boa companhia pela letargia de seu raciocínio, então eu saia do trabalho e para evitar o péssimo clima que tinha em casa escolhia uma mesa e pedia uma vodca com limão para abria a noite ate as pessoas começarem a aparecer. Inevitavelmente surgia alguém para dividir a mesa e se enveredar em infinitas conversas sobre musica, Nietche, apocalipe e política. Dali surgiu a primeira formação da banda em que eu planejava compor material próprio ou conhecer personalidades como Daniel um filho de banqueiro, morava em uma mansão em alphaville e seu esporte favorito era arrebentar um BMW para testar os AIR BAGS na Rio-Santos, dispendiosidade que duvidei até participar de 2 crash tests desses onde quase morremos no ultimo. Perdi contato com esse idiota por achar seu estilo de vida socialmente irrestponsavel, hipócrita, estéril ... um mundo regado a drogas e atuação antiquada sempre quando aparecia a ambulância de resgate e sua seguradora.

Mas naquela noite específica então meus planos eram mais consertar do que destruir Ao chegarmos no bar a banda já tinha uma mesa cheia (de mulheres e garrafas de cerveja) em frente ao espaço de frente com a vitrine que fazia contraplano com o balcão, me fizeram sinal para nos juntarmos. Tião ficou enebriado pela atmosfera do lugar decorado com spots de luz baixa e amarelada e quadros de grandes nomes do rock que faleceram jovens e pela trilha sonora de hits clássicos – reação imediata de quem visitava o lugar pela primeira vez, apesar do espaço pequeno as pessoas se acotovelavam pelo seu interior e era difícil para o proprietário decidir encerrar a noite, AS PESSOAS SIMPLESMENTE NÃO QUERIAM IR EMBORA. Mas a reação de Tião mudou para pálido, quando viu Silvano, que gentilmente fez questão de se levantar e cumprimenta-lo aos abraços, rindo de toda a situação. Me desvencilhei dos 2 ao ser abordado por umas garotas que me encontraram pela entrada. Silvano apresentou Tião a todas as garotas que estavam a fim de diversão no bar, resolveram suas desavenças. Em dado momento o convidou até o carro para pegarem algums equipamentos que utilizariam no show, Tião prontamente aceitou-ressabiado. Na rua Silvano abriu o porta-malas do carro, do outro lado da rua Tião fitou o interior do carro e viu silvado pegar um objeto cilíndrico de dois canos.

Nesse momento imaginou Silvano com olhos esbugalhados tirando uma espingarda do carro e atirando freneticamente em seu peito como se ele fosse um andróide enviado do futuro para lhe assassinar, em vingança ao ultimo encontro. Felizmente era somente um pedestal de microfone.